terça-feira, 29 de maio de 2007

feira de ciências

Quando pequeno, fazia um experimento. Num prato fundo com água, jogava pimenta do reino em pó. Depois, pegava um pedaço de sabonete e encostava no líquido. O resultado era que a poeira da pimenta fugia do sabonete, juntando-se toda do mesmo lado. Muitas vezes, sinto que todas minhas células se afugentam quando encontram uma mão carinhosa. Isso quando tudo o que quero é deixar-me estar e receber o calor que dali emana.

segunda-feira, 28 de maio de 2007

ô coisinha

A figura do meu pai é central na minha história. Normalmente por sua ausência. Uma ausência que doeu. Pensava que quanto mais parecido com o filho ideal eu ficasse, mais amor teria. Passei a vida buscando ser o filho que eu achava que ele queria ter, para conseguir um amor que não mais me poderia ser dado. Só muito recentemente é que me dei conta de que sou digno de ser amado pelo que sou.

terça-feira, 22 de maio de 2007

sócrates

Quanto mais me debruço sobre mim mesmo, mais me dou conta de quão fluido sou. E a minha essência consiste em não aprisionar-me no que acho que deveria ser, mas surpreender-me com a minha capacidade de mutação. Quanto mais me vejo, menos me (re)conheço. E isso é libertador.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

peep show

Quando morava em Madrid, certa vez disse a José que queria ter um corpão. A explicação veio em seguida: uma aparência que agradasse a todo o mundo. Naquele tempo só podia me reconhecer pelo olhar do outro. Hoje, que já sou capaz de me enxergar, dou-me conta que a completude passa por admitir o muito que me agrada ser admirado fisicamente. Exibir-me é uma forma de capturar essa parte que tanto me custa aceitar.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

declaração de intenções

As três primeiras letras do seu nome são o anagrama daquelas três que iniciam o meu. Perder-se no azul límpido dos seus olhos significa encontrar-me com o que tenho de mais íntimo. E ainda há gente que teima em dizer que as verdadeiras amizades são somente aquelas que carregamos desde a infância...

terça-feira, 15 de maio de 2007

sem vergonha

Ali, mais adiante, no espaço em que o rio de águas turvas e aquele de águas claras se misturam, é onde sou mais eu. Um círculo traçado naquele emaranhado de gotas limpas e sujas é o terreno apropriado para deitar raízes. Nessa região onde tudo se mistura, me ergo íntegro, e brilho sem vergonha de ser admirado pela multidão dali.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

ítaca

Ando. O mundo se materializa em volta de mim enquanto caminho. O ambiente se completa ao ritmo dos meus passos. A cada pé que se adianta, uma parede surge, uma árvore se desenha, um passarinho alça vôo. Se olho para trás, não vejo nada. À frente, o vazio. Com os dois pés fincados no presente, me sinto mais vivo que nunca.

terça-feira, 8 de maio de 2007

daydreams

Ontem sonhei que você gozava na minha boca. Era um rio caudaloso de porra que se metia pelas minhas entranhas. E caía dentro do estômago como uma chuva de pérolas. Ali, tudo o que havia era uma lama fedida, que, regada com pérolas, fazia nascer a mais bela das flores de lótus. Quantas vezes terei que beber sua porra para que me sinta inteiro?