quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

carta a Flávio

Hoje, pela primeira vez na minha existência, que não é assim tão curta, chorei de felicidade. Ia dirigindo para casa na hora do almoço, ouvindo "si tu me dices ven", e as lágrimas rolavam pelo meu rosto. Levo o dia num estado de êxtase que poucas vezes atingi sóbrio. Algumas vezes cheguei até lá com auxílio químico, outras tantas, pelas mãos da meditação. Duas vezes por amor. Hoje é uma delas. A outra, foi nesta última passagem por Madri, um amor fraternal, ao ser coberto de carinho pelos meus amigos.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

adulto

em madrid me olhei no espelho, na casa do José, e me vi homem, adulto, pela primeira vez em minha vida. meu atual momento é de expansão. e de viver essa maturidade. estou embarcando numa relação em que distinguo o que é o outro do que sou eu. há um elemento bastante novo para mim. me dei conta de que na relação com minha mãe os seus desejos tinham o peso de uma ordem. por conta disso, eu estava economizando para comprar o apartamento em que ela vive. ela deseja ter aquele apartamento. neste sábado, me senti mais adulto que nunca. e com o dinheiro economizado comprei um belo carro vermelho. é o primeiro carro que tenho que não foi escolhido por ela. é o carro de um homem adulto, que já não está disposto a ter seus movimentos ditados pela mãe.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

a semana dos que não foram

na terça, Ricardo não apareceu para a sessão de terapia. hoje, às dez para as oito, estava eu na ante-sala do Carlos Eduardo, meu dentista. havia marcado essa hora antes de viajar. mas eles se confundiram e passaram o meu horário para outra pessoa. o segundo encontro frustrado da semana. há um tempo, me queixaria e sairia dali com a impressão de que o mundo não me dá o tratamento que mereço ("eu mereço tudo e um pouco mais"). hoje, conversei com ele sobre o surto de febre amarela. e fiquei contente porque teria tempo de folhear a revista caras com tranqüilidade. nunca soube valorizar o que ia contra minhas expectativas. agora, começo a fazê-lo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

despedida

faz uns três meses, sonhei que Ricardo, meu terapeuta, chegava num bar em que eu estava com meus amigos. se aproximava de minha mesa e me apresentava uma conta astronômica, cobrando-me sessões que eu não havia tido. Eu ficava furioso e dizia: "você quer me cobrar por sessões que eu não tive?". quando contei a ele o sonho, chegamos a uma interpretação fascinante: eu já levava o processo terapêutico dentro de mim, mas ainda me recusava a pagar o preço disso. Na sessão seguinte, ele me pediu que lhe dissesse o que ainda podia fazer por mim, que já me via seguindo o meu caminho sem ele. Disse-lhe que o que poderia fazer por mim, era acompanhar-me ainda, não me abandonar naquele momento. Ele falou que respeitaria essa necessidade. Hoje retomaríamos a terapia, depois das férias de natal. Ricardo não apareceu. Justo hoje que eu tinha a intenção de despedir-me e dizer-lhe que agora sim sigo sozinho o meu caminho.