sábado, 16 de agosto de 2008

até aqui

bert hellinger diz que a arrogância é o desespero por viver. meu avô paterno suicidou-se quando eu era criança. meu pai suicidou-se quando eu era adolescente. não penso dar seqüência a esse legado que as mulheres da família caladamente me atribuíram. amo a vida e mereço ter toda a vida que desejar. essa vida ora será alegre, ora será triste, mas terá a verdade que carrega consigo tudo o que é feito com o coração. a partir de hoje, viverei com o coração. e tentarei ser cada vez menos arrogante.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

cardenales

Cuando me alejo de mí me hago daño. En la ilusión de que eso me acerca a tí, huyo del mundo. Hasta que el universo se me acerca, me dá um par de hostias e me hace ver que el peor maltrato que uno pode aplicarse es no darse espacio para ser quién es.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

perlaboração

tinha ido com flávio visitar minha família. no meu antigo quarto, minha mãe entra com ar grave e ensaia começar um discurso de por que flávio não serve para mim. não deixo que comece. digo a ela que sou um homem, que me faço responsável pelas minhas escolhas, que se a minha opção for equivocada mais tarde me haverei com ela, que não admito que tente meter-se dessa forma na minha vida. me dou conta então de que flávio desapareceu. busco-o por toda parte. chamo ao seu celular e em cinco minutos ele aparece, coberto de jóias: pulseiras, anéis, colares, ouro por toda parte. me diz que tinha que adiantar uns trabalhos da faculdade. peço que não volte a desaparecer dessa forma. me deixa desassossegado. caminhamos por uma cidade estranha caminho ao aeroporto. flávio aparece e desaparece. desperto, me dou conta de que a independência do olhar de minha mãe é realidade. e que o medo de que flávio me abandone me deixa o coração encolhido e os olhos cheios de lágrimas. à tarde fomos ao supermercado. fui buscar uma cesta e saí da visão de flávio. ao voltar, ele me pede, com lágrimas nos olhos, que não desapareça assim, coisa que costumo fazer. comungamos do mesmo medo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

capacidade

nunca fui capaz de, genuinamente, cuidar de ninguém. esperava receber: atenção, olhares, elogios, cuidados, carinho, amor. pouco dava em troca. se cuidava, era esperando um reconhecimento que me fazia gente. o olhar do outro era o objetivo final. sem ele, eu não existia. ultimamente, tenho me visto em situações em que meus cuidados são solicitados. cuido com amor. cuido com carinho. cuido com emoção. e o fato de cuidar faz com que eu mesmo me olhe com um carinho imenso. o amor de homem que aprendeu a ser gente.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

prazer

isso é novidade. meu corpo não sabia o que é estar dias a fio em um estado de mais puro prazer. há variações. sempre para mais. tenho arrepios e descargas de adrenalina. uma sensação de abandono potente. como se o corpo estivesse descansado, mas pronto para o ataque. e um sorriso pregado na cara.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

huatulco

tomando el desayuno estaban josé, ana de pamplona y mariú. mi hermana andaba por el sitio. era un hotel precioso. habia velas e incienso por todos los lados. yo buscaba a miguel para explicarle porque habia estado desaparecido por una semana. tenia la explicación perfecta. me habia llamado para acompañarle claudio naranjo. yo repetia para mi mismo, como un mantra, que no podia estar en dos sitios a la vez. me sentia ligero y muy seguro de lo que pasaba. me movia como un hombre lleno de valor.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

dois de paus

entrelaçados na cama, estávamos meus dois primos e eu. um deles inexperiente nas artes do homoerotismo. o outro parecia já saber muito. nos chupávamos os paus. eu queria ensinar ao inexperiente e fugir do que tinha grandes noções. acordei excitado.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

libertação

sei muito bem o que estou disposto a dar. é muito. podes tomar. ou não. podes querer. ou não. isso não modifica minha disposição. sinto. não está vinculado ao que sentes. se caminhamos juntos, será maravilhoso. se preferes andar só, seguirei com a minha disposição. ou não.

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

carta a Flávio

Hoje, pela primeira vez na minha existência, que não é assim tão curta, chorei de felicidade. Ia dirigindo para casa na hora do almoço, ouvindo "si tu me dices ven", e as lágrimas rolavam pelo meu rosto. Levo o dia num estado de êxtase que poucas vezes atingi sóbrio. Algumas vezes cheguei até lá com auxílio químico, outras tantas, pelas mãos da meditação. Duas vezes por amor. Hoje é uma delas. A outra, foi nesta última passagem por Madri, um amor fraternal, ao ser coberto de carinho pelos meus amigos.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

adulto

em madrid me olhei no espelho, na casa do José, e me vi homem, adulto, pela primeira vez em minha vida. meu atual momento é de expansão. e de viver essa maturidade. estou embarcando numa relação em que distinguo o que é o outro do que sou eu. há um elemento bastante novo para mim. me dei conta de que na relação com minha mãe os seus desejos tinham o peso de uma ordem. por conta disso, eu estava economizando para comprar o apartamento em que ela vive. ela deseja ter aquele apartamento. neste sábado, me senti mais adulto que nunca. e com o dinheiro economizado comprei um belo carro vermelho. é o primeiro carro que tenho que não foi escolhido por ela. é o carro de um homem adulto, que já não está disposto a ter seus movimentos ditados pela mãe.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

a semana dos que não foram

na terça, Ricardo não apareceu para a sessão de terapia. hoje, às dez para as oito, estava eu na ante-sala do Carlos Eduardo, meu dentista. havia marcado essa hora antes de viajar. mas eles se confundiram e passaram o meu horário para outra pessoa. o segundo encontro frustrado da semana. há um tempo, me queixaria e sairia dali com a impressão de que o mundo não me dá o tratamento que mereço ("eu mereço tudo e um pouco mais"). hoje, conversei com ele sobre o surto de febre amarela. e fiquei contente porque teria tempo de folhear a revista caras com tranqüilidade. nunca soube valorizar o que ia contra minhas expectativas. agora, começo a fazê-lo.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

despedida

faz uns três meses, sonhei que Ricardo, meu terapeuta, chegava num bar em que eu estava com meus amigos. se aproximava de minha mesa e me apresentava uma conta astronômica, cobrando-me sessões que eu não havia tido. Eu ficava furioso e dizia: "você quer me cobrar por sessões que eu não tive?". quando contei a ele o sonho, chegamos a uma interpretação fascinante: eu já levava o processo terapêutico dentro de mim, mas ainda me recusava a pagar o preço disso. Na sessão seguinte, ele me pediu que lhe dissesse o que ainda podia fazer por mim, que já me via seguindo o meu caminho sem ele. Disse-lhe que o que poderia fazer por mim, era acompanhar-me ainda, não me abandonar naquele momento. Ele falou que respeitaria essa necessidade. Hoje retomaríamos a terapia, depois das férias de natal. Ricardo não apareceu. Justo hoje que eu tinha a intenção de despedir-me e dizer-lhe que agora sim sigo sozinho o meu caminho.