terça-feira, 30 de outubro de 2007

piratas

bem no centro na minha testa, entre os olhos, há uma cicatriz profunda, horizontal. está aí há muito tempo e impede que a energia vital faça um caminho direto até essa região. essa cicatriz foi feita numa das lutas que dois piratas travaram naquela região. entre golpes e golpes de espada, a área ficou ferida. hoje descobri que essa cicatriz desaparece quando os piratas buscam uma solução de compromisso. usando suas espadas para cortar os próprios pulsos, eles misturam seus sangues. é justamente o ponto em que a energia flui. curar essa ferida significa reabilitar a energia masculina que expulsei de mim. E reabilitá-la é admitir que ela vem diretamente do meu pai.

domingo, 28 de outubro de 2007

profecia

faz um tempo betina me disse: "você vai ver que chegará um dia em que prestígio social, viver para os demais perderão a importância como idéias norteadoras da sua vida". hoje almocei só. preparei minha própria comida e me sentei à mesa, com um copo de vinho. olhando pela janela os flamboyants em flor, me dei conta de quanto ela tinha razão. Mais que isso, percebi que consegui construir dentro de mim o que procurava fora. a busca pela aprovação alheia dá lugar a um reconhecimento de mim mesmo. e os demais ganham outra dimensão na minha vida. são complementares e não mais essenciais. minha vida não depende deles, embora ganhe em riqueza e colorido com sua presença.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

buda de veludo roxo

sempre senti que giuliana era um arauto de alguma boa-nova. veio me mostrar o quanto estava equivocada minha postura de que afetos e trabalho não combinam. minha aproximação a esse ambiente era asséptica, distante. um conflito surgia do fato de passar o dia fazendo algo que não me movia, para o bem ou para o mal. agora, mesmo quando sinto raiva, integro essa realidade à minha vida. fiquei mais atento ao que se move dentro de mim quando estou por aqui. havia um divórcio entre o homem do trabalho e o homem de fora do trabalho. agora os dois são o mesmo. ou melhor, agora ambos são vários. e todos vão pela vida com mais leveza, levando como estandarte um buda de veludo roxo.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

dodecafonia

vaidosamente, sempre disse que não tinha problemas existenciais. pragmático, afirmava que o que tinha para resolver dizia respeito ao aqui e ao agora. há algum tempo isso mudou. há bem pouco, todos os meus questionamentos existenciais fizeram fila na minha porta. trouxeram com eles oportunidades valiosas de auto-conhecimento, de humanização e de contato. até o momento tudo foi digerido com cuidado e distância. se anuncia a hora de sair para o mundo, de viver a vida, de aplicar o aprendido na prática. o medo me humaniza e com ele pela mão vou dançar a minha música. não é mais o crescendo que eu imaginava que seria, uniforme e em avanço permanente. é puro fruto da dodecafonia. avanços, recuos, quebras e retrocessos. a verdade da minha vida está no fato de que ela está longe de ser uma sinfonia.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

insetos

vestindo um guarda-pó branco comprido, abria gavetas baixas e largas e mostrava caixas de madeira cobertas com vidro para outra pessoa, vestida da mesma forma que eu. dentro das caixas, presos por alfinetes compridos, insetos das mais variadas formas. alguns imensos, outros nem tanto, de cores diversas, atraentes e brilhantes. a outra pessoa tinha ido a visitar meu laboratório, atraída pela notícia de que me desfazia da minha coleção de insetos. em inglês, insetos são bugs. Em informática, os bugs impedem que o programa, ou a máquina, funcionem bem. me desfiz da minha coleção de tudo o que me impede de funcionar bem.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

buika

esta noite sonhei que havia ido trabalhar de bermudas. na parte de cima levava um robe verde e amarelo pertencente à minha mãe, que fez o encanto dos meus dias de criança. chegando à embaixada, me aturdia a idéia de que a roupa que vestia não era apropriada. ninguém dizia nada, ninguém me olhava com reprovação, mas uma sensação de inadequação me empurrava para a loja da frente, onde pretendia comprar uma calça. em seguida, me vejo na missa de sétimo dia de parentes de duas colegas do trabalho. não havia vínculos afetivos com elas, nem com os mortos, mas soluçava de tanto chorar. dos demais presentes não partiam reprovações. meu peito explodia, lançando fel e diamantes, merda e pérolas, ódio e amor. assim que acordei, me veio à cabeça a primeira música do cd de buika que josé me deu de presente...dime por qué tiene carita de pena. que tiene mi niña siendo santa y buena? não me canso de impressionar com o papel esclarecedor e a capacidade de síntese que têm os sonhos.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

operário padrão

demorei 37 anos para integrar meu coração ao meu corpo. sempre soube que estava lá, mas sua presença em minha vida era pontual. poucas vezes prestava atenção ao que saía dali. por muito tempo foi como se não existisse. faz muito pouco que estou atento ao seu bater. agora, mesmo quando dói, me produz a alegria de estar vivo.